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Colocar alimentos quentes no frigorífico: o que diz a ciência?


Durante anos ouvimos que “não se deve colocar a sopa quente no frigorífico porque azeda” ou “pode estragar o frigorífico”. Mas será mesmo assim? A verdade é que não é o alimento em si que está em risco, mas sim a segurança dos outros alimentos armazenados. Este artigo explica o que realmente acontece, o que recomenda a evidência científica e como garantir uma refrigeração segura.


O que acontece quando colocamos comida quente no frigorífico


Introduzir um alimento quente no frigorífico pode elevar temporariamente a temperatura interna. Esta subida, por pequena que seja, é suficiente para que outros alimentos entrem na chamada “zona de risco” (entre 5 °C e 65 °C), onde as bactérias se multiplicam com maior facilidade.


Nos frigoríficos mais modernos, o sistema de refrigeração consegue compensar rapidamente essa variação. No entanto, em equipamentos mais antigos, cheios ou mal ventilados, esse equilíbrio é mais lento, aumentando o risco de contaminação e deterioração.


A importância de arrefecer rapidamente


Segundo a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), os alimentos cozinhados devem ser arrefecidos rapidamente antes de serem refrigerados, para reduzir o tempo passado na zona de risco.


Quando um alimento permanece entre 5 °C e 65 °C durante mais de 2 horas, a carga microbiana pode duplicar várias vezes, favorecendo o crescimento de microrganismos como Salmonella, Listeria monocytogenes ou Bacillus cereus.


Assim, o ideal é que os alimentos cozinhados não permaneçam à temperatura ambiente mais de 1–2 horas antes de serem guardados no frigorífico.


Como arrefecer os alimentos em segurança


A forma mais eficaz de prevenir riscos é arrefecer rapidamente o alimento após a confeção. Eis algumas estratégias seguras:


1. Dividir em porções menores

Porções pequenas arrefecem mais depressa e de forma uniforme. Usar recipientes rasos ou largos acelera o processo.


2. Mexer ocasionalmente

Misturar suavemente ajuda a distribuir o calor de forma homogénea, evitando que o interior se mantenha quente por demasiado tempo.


3. Utilizar um banho de água fria

Coloca o recipiente bem fechado dentro de outro com água fria ou gelo. Esta técnica é particularmente útil para sopas, caldos e molhos.


4. Guardar apenas quando estiver morno

O alimento não precisa estar totalmente frio, mas deve deixar de libertar vapor intenso. Quando estiver morno ao toque, pode ser colocado no frigorífico sem risco de aquecer o ambiente interno.


Organização e boas práticas de conservação


Garantir que o frigorífico está bem organizado é tão importante quanto o próprio arrefecimento:

  • Mantém a temperatura abaixo dos 5 °C.

  • Não sobrecarregues o frigorífico: o ar frio deve circular livremente.

  • Coloca os alimentos cozinhados nas prateleiras superiores, longe de alimentos crus.

  • Usa recipientes herméticos e identifica com data de confeção.

  • Verifica periodicamente a temperatura com um termómetro.


Estas práticas reduzem o risco de contaminação cruzada e prolongam a durabilidade dos alimentos.


O que diz a evidência e as entidades oficiais


De acordo com a ASAE, os alimentos quentes não devem ser guardados diretamente no frigorífico. Antes disso, devem ser arrefecidos rapidamente, idealmente dentro de 90 minutos.


Outras entidades internacionais, como a Food Standards Agency (Reino Unido) e a European Food Safety Authority (EFSA), reforçam que a zona de perigo térmico (entre 5 °C e 63 °C) é onde as bactérias crescem mais rapidamente.Reduzir o tempo que os alimentos permanecem nesta faixa é uma das formas mais eficazes de prevenir intoxicações alimentares.


Perguntas frequentes (FAQ)


  • É seguro colocar sopa quente no frigorífico? Não. O calor libertado pode elevar a temperatura interna e afetar a segurança de outros alimentos. É preferível deixar arrefecer até estar morna (1–2 h).

  • Quanto tempo posso deixar a comida fora antes de refrigerar? Idealmente até 2 horas, ou menos em dias quentes. Após esse período, aumenta o risco de multiplicação bacteriana.

  • Posso tapar a comida enquanto arrefece? Sim, mas com a tampa entreaberta, para permitir a libertação do vapor. Assim evita-se condensação e crescimento bacteriano.

  • E se colocar diretamente por falta de tempo? Se for apenas uma pequena porção num frigorífico moderno, o impacto é limitado. No entanto, não deve tornar-se uma prática habitual.


Conclusão


Arrefecer corretamente os alimentos antes de os colocar no frigorífico é uma prática essencial de segurança alimentar. Mais do que proteger o próprio alimento, evita que outros se deteriorem e reduz o risco de infeções alimentares. Com alguns cuidados simples: dividir em porções, mexer, usar água fria e garantir ventilação adequada, é possível conservar as refeições de forma segura, prática e eficaz.


Referências

  • Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). Conservação dos alimentos no frio. Disponível em: asae.gov.pt

  • Food Standards Agency (UK). Temperature control in food safety.

  • European Food Safety Authority (EFSA). Safe food handling practices.

  • RSPH (Royal Society for Public Health). Cooling and reheating food safely.


Artigo revisto e redigido por Ana Rita Sousa, Nutricionista




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